Possibilidades Impossíveis
“A maior parte do tempo, uma imagem nos interessa porque indica alguma coisa que não está na imagem: pelo que nos deixa adivinhar, ou pelo que continua a ocultar. Somos muito mais detetives do sensível do que os seus voyeurs." (Lebrun, 1983).
Podemos tomar a arte como instrumento maior de exploração do desconhecido, seja através da criação ou de sua fruição. Criar e experienciar arte é uma das experiências mais enigmáticas e ao mesmo tempo de maior possibilidade de enriquecimento de nosso repertório sensível. Através dela temos acesso a lugares outros que não os ordinários a que estamos sujeitos em nossas vidas cotidianas. A arte pode nos levar além, e sem que saibamos exatamente para onde, pois ela nos fornece a liberdade para simplesmente ir, mesmo que seja a lugar algum. A arte pode nos tornar livres, nos abrir possibilidades outras que outrora pareciam impossíveis.
É dessa premissa de liberdade de exploração do desconhecido, em si mesmo e no mundo, que o artista Fabio Benetti parece partir quando imerge em seu processo criativo. Esse viés exploratório é rapidamente destacado ao observarmos os materiais com que o artista trabalha — calcário e outros minérios, plásticos reutilizados e outros materiais encontrados em caçambas de lixo pela cidade —, frutos de extensa pesquisa e experimentação contínuas, que resultam em superfícies talvez nunca antes vistas numa tela. Novas possibilidades de expressão, novos caminhos para destinos desconhecidos. Seus próprios motivos condutores não são tão claros quando inicia um novo trabalho, pois o artista inspira-se na exploração do desconhecido em sua própria inconsciência, e manifesta-o através da escolha de cores e gestos descompromissados com um projeto formal pré-concebido. Benetti inicia, em cada trabalho, um processo cuja finalização também desconhece, pois pela natureza dos materiais que utiliza, somente as condições naturais — temperatura, luz, umidade etc. — vão definir seu acabamento final.
A presente exposição reune os trabalhos mais recentes do artista Fabio Benetti como exercício de exploração sensível através de diferentes superfícies e materiais. Propomos, através desse compêndio, um exercício de liberdade sensível, de exploração de alternativas outras. Propomos abrirmo-nos à incerteza e a todas as suas potencialidades. Propomos possibilidades impossíveis.
Iago Calegari, 2020
CITAÇÃO:
LEBRUN, Gerard. A mutação da obra de arte. In: LEÃO, Emmanuel Carneiro et al. Arte e Filosofia. Rio de Janeiro: FUNARTE,/INAP, 1983.